Por que um programa de trainee exclusivo para negros causa tanta polêmica?

Por Ana Sara Souza
10.11.2020

 

Em setembro deste ano, uma das empresas mais famosas da área de varejo, a Magazine Luiza, comunicou a abertura do seu programa de Trainee 2021, mas dessa vez com algo diferente: o programa era exclusivo para negros e negras. Tal ação gerou muitos comentários, tanto positivos como negativos e o debate veio à tona. Questões como racismo reverso, exclusão de determinados grupos e até mesmo uma ação civil foi feita contra a empresa. Fica então a pergunta: por que o programa causou tanta indignação por uma parte da sociedade?

Ao estudarmos a história do Brasil, por volta da década de 1530, vemos todo o processo de escravidão, ao começo os indígenas e depois os africanos. Muitos anos se passaram, mas até hoje temos as consequências daquela época. Os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que a taxa de negros fora da escola chega a 19%, o que gera a taxa de analfabetismo de 9,1%. E quando falamos de violência, o número é ainda mais alarmante: 98,5% enquanto para brancos, é apenas 34%. O que nos mostra que sim, ainda há muito o que ser feito para repararmos essa parte da história do Brasil. 

Por isso, um programa de trainee exclusivo para negros não é uma forma de racismo reverso contra o branco – até mesmo porque isso não existe – mas sim, uma ação afirmativa para tentar combater as desigualdades tão presentes na realidade da população negra. E quer saber mais sobre porquê são tão necessárias iniciativas como essa? Porque negros representam apenas 30% dos cargos de chefia. Porque grande parte da população negra mora na periferia, o que em muitos casos, já é um ponto desclassificatório para se conseguir um emprego. Porque muitos jovens negros não têm acesso a uma educação de qualidade, a um ensino bilíngue – tão requisitado pelas empresas – e a uma formação digna. Porque negros são descriminados por simplesmente serem negros. 

Entender a necessidade dessa ação da Magazine Luiza, assim como de outras empresas que também estão adquirindo essa iniciativa, não é querer excluir o branco de conseguir emprego, até porque sabemos que a taxa de desemprego no Brasil é alta, mas é compreender que essa é uma luta contra a desigualdade social. Não é uma forma de deixar o racismo ainda mais em voga, com muitos alegaram, mas sim uma forma de reparação com essa parte da população que sofreu e sofre todos os dias com as diversas situações de racismo que estão enraizadas em nossa sociedade. 

Estamos no século XXI e uma ação assim não deveria causar espanto. Aliás, estamos no século XXI e muitas das situações que acontecem hoje não deveriam nem existir. E se você quiser entender mais sobre o assunto, pode procurar ler autores negros como Djamila Ribeiro, o professor Silvio Almeida, Eliane Alves Cruz e tantos outros que contribuem com um conhecimento rico e necessário para todos.

 


Ana Sara Souza

Por Ana Sara Souza

Jornalista pela Universidade São Judas Tadeu e mestranda em Educação: História, Política, Sociedade pela PUC-SP.

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