Dados do projeto DNA podem demonstrar a opressão de raça e gênero desde a colonização

Por Julia Bispo
09.10.2020

 

A diversidade genética da população brasileira está sendo estudada pelo projeto DNA do Brasil. Após nove meses do início do estudo, os pesquisadores já sequenciaram o genoma de 1.247 voluntários, espalhados em diversas regiões do país. De acordo com os dados, 75% dos cromossomos Y na população são herança de homens europeus, 14,5% são de africanos e apenas 0,5% são de indígenas. Os outros 10% são metade do leste e do sul asiáticos, e metade de outros locais da Ásia.

Os resultados com o DNA mitocondrial foram diferentes. Cerca de 36% desses genes são de mulheres africanas, 34% de mulheres indígenas. Apenas 14% representam mulheres europeias e 16% mulheres asiáticas. 

Como consequência desses dados, é possível ver que 70% das mães do Brasil são africanas e indígenas e, em sua maioria de 75% dos pais são europeus.

Os dados comprovam o triste passado da colonização brasileira, construída com base na escravidão e no estupro de mulheres negras e indígenas. Onde para os homens não brancos europeus, a violência e a mortes eram constantes. 

A pesquisa também forneceu dados sobre a ascendência dos voluntários, em que foi possível observar genes oriundos de 54 populações diferentes ao redor do globo, afirmando que o Brasil é sim miscigenado. Contudo essa miscigenação foi construída a base da violência, de um lado. Onde mulheres negras e indígenas foram estupradas e violadas durante anos sobre o véu de um discurso que o “amor não tem cor”. Provavelmente todo brasileiro já ouviu a história sobre uma tataravó negra que abandonou tudo para viver com um homem branco, ou a bisavó indígena que saiu da tribo de forma “voluntária” e teve filhos de um homem europeu. 

Enquanto os descendentes da população negra retirada forçadamente da África não conseguem descobrir de fato suas raízes, os descendentes de europeus se orgulham da herança violenta da colonização.

O projeto DNA do Brasil mostra de forma específica como a cultura do estupro surgiu na nossa sociedade e como ela prevalece tão fortemente ainda na atualidade. O Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2019, mostra que o país é um dos que possuíam mais casos de estupro no mundo. Entre 2017 e 2018 esse crime aumentou em torno de 5%, somando mais 120 mil casos, não considerando o número que não fazem a denúncia às autoridades.   

O DNA do Brasil planeja analisar 15 mil genomas. Em agosto, o Ministério da Saúde passou a apoiar o projeto, que mudou de nome para Genoma de Referência do Brasileiro, recebeu R$ 8 milhões para realizar o sequenciamento de mais de duas mil amostras. 

 


Julia Bispo

Por Julia Bispo

Jornalista, possui experiência em produção de conteúdos voltado à comunicação social. Já atuou com assessoria de imprensa e comunicação interna, nas áreas de Saúde, Beleza, Bem-Estar, Varejo e Negócios.

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