Na última quarta-feira (27), o Senado aprovou a possível inclusão de Dandara dos Palmares e Luísa Mahin no livro “Heróis e Heroínas da Pátria”.
No caso de Dandara, a sugestão foi do deputado Valmir Assunção do PT da Bahia: companheira de Zumbi dos Palmares, Dandara comandou um quilombo na luta contra a escravidão. Quando foi presa, a guerreira cometeu suicídio ao se jogar de uma pedreira para não retornar à condição de escrava.
Já Luísa Mahin nasceu na região da Costa Mina, na África, e foi radicada no Brasil. Mãe do advogado abolicionista Luís Gama, coordenou a articulação dos levantes de negros escravizados.
Ambas tiveram seus nomes aprovados em sessão do Senado. Agora, a medida segue para sanção presidencial. Mas qual seria a relevância de resgatar a memória dessas mulheres?
Segundo a historiadora francesa Michelle Perrot, uma das principais referências no assunto, “no teatro da memória, as mulheres são uma leve sombra, uma vez que não lhes foi dado poder para gozar de espaço na narrativa histórica tradicional”. Isso ressalta a inegável importância do resgate da memória dessas mulheres, em uma história escrita majoritariamente por homens brancos, para que haja representatividade, referência e protagonismo, sobretudo no meio político.
Chimamanda Ngozi Adichi, escritora nigeriana, também aponta que “a cultura não faz as pessoas; as pessoas fazem a cultura; se uma humanidade inteira de mulheres não faz parte da cultura, então temos que mudar nossa cultura”.
Seria então de obrigação do poder público não só dar visibilidade ao heroísmo dessas figuras, como também legitimá-las politicamente, através dos (ainda escassos) projetos que abrangem representação e reparação histórica, principalmente das mulheres negras.
A filósofa ativista norte-americana Angela Davis ressalta: “A política não se situa no polo oposto ao de nossa vida. Desejemos ou não, ela permeia nossa existência, insinuando-se nos espaços mais íntimos”.
Em um país como o Brasil, de passado escravocrata e uma dinâmica social que até hoje carrega os resquícios do preconceito racial, é necessário que medidas assim sejam levadas em conta:
“Temos duas mulheres negras, de histórias de luta fundamentais para nossa ancestralidade. Vamos acompanhar o trâmite final e celebrar, pois isso mostra a força da mulher, da luta por terra e por liberdade, principalmente no período e na conjuntura política que vive o Brasil; não tenho dúvidas que a aprovação desse projeto será uma das muitas vitórias que teremos”, destaca Assunção.
Ainda citando Angela Davis, "Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”. Quando Dandara e Luísa são lembradas, isso significa progresso.