Tarsila Popular, em exposição atualmente no Masp, promete evocar o sentimento da busca por uma identidade do povo brasileiro, tema tão presente no movimento modernista. A crueza de sua obra é o que dá o tom ao encantamento que causa. Ao retratar pessoas nordestinas, negras, pobres e indígenas, a pintora colocou luz sobre o Brasil como ele de fato se apresenta, além da importância do papel de cada habitante em sua construção. Cada um que existe pelo país, e não apesar dele, como creem aqueles que negam suas raízes plurais.
Como o último país a abolir a escravidão e que mantinha escravizados em todo o território, a naturalização da desigualdade socioeconômica, do preconceito com motivações raciais e do consequente autoritarismo intrínseco às relações sociais torna ainda incomum pessoas comumente marginalizadas aparecerem como o centro da pintura, da música e da literatura.
Ao mesmo tempo, curioso é ser exatamente nesses retratos que nossa cultura faz história. Sendo a maior exposição já dedicada à artista até então, noventa e duas obras tornam assimiláveis cores e história brasileiras, de quem, se não engavetou, ao menos tranquilizou os próprios aprendizados artísticos em Paris à procura de um novo ambiente, que fizesse nascer novas formas de mostrar sua habilidade.
Aspectos da cultura africana se manifestaram na culinária e na religião brasileiras como bem se sabe, e a arte também demonstra a riqueza que trouxeram consigo os africanos que aqui se instalaram. Para a arte modernista, traçar a maneira como o negro se coloca na sociedade brasileira é recorrente. Amaral assim o fez, especialmente em uma de suas obras mais famosas, “A Negra”, onde as fortes cores dão forma a uma moça que costumava ser escravizada na fazenda onde vivia a paulista. Os traços quase excedem a tela, numa amostra de sua visão da negritude: expressiva.
No mesmo ambiente – que foi, inclusive, idealizado pela própria -, encontra-se a exposição acerca da obra da arquiteta do Masp, Lina Bo Bardi. A ítalo-brasileira, responsável por um dos pontos mais característicos da cidade de São Paulo, terá fragmentos de vida e obra disponíveis para visita. Projetos de arquitetura, editoriais e curadorias para museus estão na lista de seu legado, também tão marcante na construção das tantas manifestações de Brasil que conhecemos.
SERVIÇO:
Exposições: Tarsila Popular e Lina Bo Bardi: Habitat
De quarta a domingo: 10h às 18h. R$ 40
Terças: 10h às 20h. Entrada gratuita.
Endereço: Av. Paulista, 1.578
Fonte: Folha - Uol