Dados divulgados pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) revelam a situação ainda precária do mercado de trabalho brasileiro em 2019, num cenário onde persiste o desemprego, principalmente entre a população de baixa escolaridade.
Essas informações, levantadas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, visam principalmente acompanhar as flutuações trimestrais e a evolução da força de trabalho, bem como outras informações relativas às dinâmicas do lar do brasileiro.
Indicadores confirmam que, no quarto trimestre de 2017, em 21,5% dos domicílios pesquisados não havia nenhum morador desempenhando atividades remuneradas. Essa proporção subiu para 22,2% no último trimestre de 2018, ou seja, o quadro se agravou. Ainda, nos domicílios considerados de baixa renda, a proporção de lares nessa situação subiu de 29,8% no quarto trimestre de 2017 para 30,1% no quarto trimestre de 2018.
Além desses índices, o Ipea apresenta dados que confirmam um aumento progressivo na desigualdade salarial: no último trimestre de 2018, a renda média domiciliar nos lares mais ricos foi 30,3 vezes maior que nos mais pobres, de forma que o índice Gini (medida de desigualdade de renda) vem crescendo desde 2016.
De acordo com o grupo de conjuntura do Ipea, "Os dados mais recentes mostram que, após ensaiar uma recuperação mais acentuada ao longo do primeiro semestre de 2018, o mercado de trabalho brasileiro voltou a apresentar um cenário de baixo dinamismo, caracterizado pela estabilidade da taxa de desemprego em patamar elevado, e pela leve expansão da ocupação e da renda”, e destacam a “lenta trajetória de retomada da economia brasileira”
Pode-se apontar como consequências dessa crise o crescimento dos trabalhadores por conta própria (informais, ou contratados de forma irregular), acompanhado pelo decréscimo dos empregados do setor privado (sem carteira assinada) e do setor público: “Tivemos queda no contingente de empregados do setor privado e no setor público. No primeiro, isso atingiu, principalmente, os trabalhadores sem carteira assinada. Apesar disso, a informalidade aumenta ainda mais, com influência do crescimento dos trabalhadores por conta própria”, salienta Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, que caracteriza essa desocupação como um problema mais forte nos grandes centros urbanos.
As considerações do Ipea sobre cenários a longo prazo apontam algumas perspectivas para o período dos próximos dez anos. Porém, apesar de prever recuperação gradual do emprego e da renda média ao longo de 2019, estima-se que os efeitos sobre o mercado de trabalho só deverão surgir com mais intensidade ao longo de 2020; o cenário de referência mostra uma economia que, após a recuperação cíclica, teria um crescimento potencial esperado ainda baixo, insuficiente para tirar o país da armadilha da renda média.
Por sua vez, um cenário transformador proposto pelo Instituto mostra que o país tem um potencial de crescimento elevado, mas que, para tornar-se viável, seriam necessárias mudanças substanciais não somente em relação à questão fiscal, mas em medidas que estimulassem o aumento da produtividade e a competitividade, pois somente assim seria possível almejar níveis de desenvolvimento comparáveis a países de alta renda.