Há meses profissionais de arte e cultura se veem em necessidade de reinvenção. Por conta da atual pandemia que promete durar pelo menos boa parte do ano de 2020, é possível que esse seja um dos setores mais atingidos de maneira nociva, mas também o que mais promove transformações significativas. Isso porque existe, nesse caso, a necessidade da plateia, da presença do corpo físico, que deve, no momento, permanecer em isolamento.
Os desafios podem, de maneira surpreendente, ser maiores e mais duradouros do que parecem. Nosso comportamento no período pós-pandemia gera debates: na China, país no qual está localizada a capital de Hubei, Wuhan, onde foram detectados os primeiros casos de Covid-19, ainda não retomou suas atividades normalmente, ainda que sem registros de novos casos da doença. Isso porque, além das precauções estimuladas pelo Governo para evitar novas contaminações, cerca de 20% dos habitantes do país apresentam sintomas de estresse pós-traumático, segundo estudo realizado pela Universidade Médica Naval de Shangai, dificultando a retomada de atividades cotidianas.
A reabertura que será dada em alguns países da Europa também apresenta restrições, com passageiros de transporte público devendo cumprir ordens de distanciamento e escolas voltando a funcionar apenas para alunos de faixas etárias específicas, por exemplo. Nas casas de espetáculos não seria diferente: assentos marcados e espaçados entre si, além de limite de espectadores, são alguns dos pré-requisitos para reaquecer o setor cultural.
A opção do streaming e o contato com diferentes obras
A live streaming ganhou destaque neste ano, tornando-se um dos personagens principais do atípica situação que vivemos. Se por um lado muitos trabalhadores da música, teatro e outras manifestações artísticas têm enfrentado dificuldades específicas e profundas devido à escassez de trabalho e fonte de renda, por outro, óperas, balés, shows, concertos, peças de teatro etc., anteriormente procurados por camadas pouco numerosas da sociedade, passaram a ser vistos com maior frequência, por conta de importantes iniciativas. A possibilidade de acesso a tais conteúdos de maneira gratuita via plataformas de compartilhamento de vídeo como o Youtube, aponta para a positiva perspectiva de que com divulgação ampliada ou acesso democratizado, arte e cultura têm, sim, muita procura.
Mudanças futuras
É possível que a vida como a conhecíamos retorne até nosso dia a dia, como é também bastante provável que hábitos adquiridos neste período reflitam em mudanças comportamentais profundas. Uma dessas mudanças talvez se deem na dinâmica de público com apresentações de música, dança, teatro e até mesmo visitações a museus a médio ou longo prazo, que devem passar a ganhar o ambiente virtual com naturalidade.
Com a possibilidade de conhecer outros universos por meio da internet, dentro de casa, além da falta de perspectiva clara em relação a uma vacina ou medicamento eficaz contra uma doença que se espalha pelo mundo facilmente sem algum controle de aglomerações, faz sentido que essa forma de contato com a arte se misture com outros antigos hábitos daqui por diante, tornando-se uma opção para pessoas de baixa renda que encontram barreiras financeiras ou de deslocamento na busca por uma ampliação de sua bagagem cultural, bem como para pessoas com limitações físicas.
O fomento à arte e a importância que esta tem socialmente no estreitamento das nossas relações sociais e no bem-estar individual também dificilmente serão temas esquecidos pelos jovens. Seja em forma de cobrança por políticas públicas ou em alterações na rotina, focando tanto em apresentações e exposições online quanto em casas lotadas, o fato é que essa é uma discussão que ganhou mais espaço e tem terreno fértil para seguir como pauta num futuro próximo.
crédito de imagem: Folha UOL
Por Renata Bottiglia
Formada em Letras - Português/Francês, pela Universidade Federal de São Paulo. Tem experiência profissional com revisão e redação de texto. Atualmente presta serviços de revisão de conteúdo para mídias digitais.