“Quarto de Despejo” comemora 60 anos em 2020

Por Julia Bispo
12.09.2020

 

Carolina de Jesus é autora e protagonista da obra que conta a história da modernidade que não chegou nas periferias do Brasil nos anos 50.

 

Crédito Imagem: Arquivo Público de São Paulo / Reprodução

 

Uma das obras mais emblemáticas da literatura brasileira do século passado completou 60 anos em 2020. Em mais de 18 cadernos encontrados em lixões, Maria Carolina de Jesus (1914 - 1977) escreveu um diário sobre sua realidade, como catadora de materiais recicláveis e moradora da favela do Canindé, Zona Norte de São Paulo. 

Com apenas o segundo ano do fundamental concluído, Carolina de Jesus sempre gostou de literatura e “devorava” todos os livros que encontrava, boa parte deles no lixão. As anotações - que mais tarde vieram a se tornar um livro por intermédio do jornalista Audálio Dantas - contava a história de um Brasil miserável, oposto da apresentada pelo governo JK, que representava modernidade, tecnologia e qualidade de vida. Mas a publicação da obra só foi possível graças a casualidade do destino

Em busca de uma reportagem na favela do Canindé, o jornalista Audálio Dantas conheceu Carolina de Jesus, que contou sobre seu livro. De volta a redação, Dantas publicou uma matéria sobre a catadora de recicláveis e seus esforços para criar os três filhos enquanto escrevia um diário sobre a vida na favela. A Editora Francisco Alves se interessou em publicar as anotações.

Na primeira semana, “Quarto de Despejo” vendeu mais de 10 mil exemplares e foi traduzido para 14 idiomas e publicado em mais de 40 países. A editora pagou dois mil cruzeiros para Carolina de Jesus, que usou o dinheiro para comprar uma casa em Santana, bairro da Zona Norte da capital. Mais tarde, ela vendeu o imóvel e comprou um sítio, em Parelheiros. 

Em o “Quarto de Despejo”, Carolina de Jesus já inicia a obra apresentando um novo conceito de escravidão vinculado a fome. Suas mais de 150 páginas mostram a pobreza em sua forma mais crua. Era o avanço da modernidade no país frente a exclusão das camadas mais pobres, contada por uma vítima do sistema. Apesar de Audálio fazer uma revisão no livro e corrigir acentuações, o jornalista manteve a gramática e a ortografia usada pela autora nos manuscritos. 

A autora ainda lançou mais três livros: “Casa de Alvenaria” (1961), “Pedaços de Fome” (1963) e “Provérbios” (1963). Nenhum deles teve o mesmo sucesso do livro de estreia e Carolina de Jesus voltou a vender materiais recicláveis para sobreviver. Com bronquite asmática, a escritora morreu no anonimato e na pobreza, em 13 de fevereiro de 1977, aos 64 anos.

 

Imagem Destaque: Canal Ciências Criminais


Julia Bispo

Por Julia Bispo

Jornalista, possui experiência em produção de conteúdos voltado à comunicação social. Já atuou com assessoria de imprensa e comunicação interna, nas áreas de Saúde, Beleza, Bem-Estar, Varejo e Negócios.

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