O Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha nasceu em 1992 em um encontro de mulheres negras em Santo Domingos, na República Dominicana. Elas definiram a data e criaram uma rede para pressionar a Organização das Nações Unidas (ONU) a assumir a luta contra as opressões de raça e gênero.
O evento que reuniu 32 representantes de diversos países surgiu para dar visibilidade à luta das mulheres negras. Ali discutiram problemas que afetam a todas as mulheres em geral, como machismo, formação educacional e profissional, maternidade. No entanto, também trataram de questões específicas, como o racismo, preconceito e a situação de inferioridade que se encontram em relação às mulheres brancas.
Ao longo dos anos, a data vem se consolidando no calendário de luta do movimento negro e tem resgatado a luta e a resistência das mulheres negras.
No Brasil, oficializou-se a data em 2014, com a Lei nº 12.987, determinando o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra.
Quem é Tereza de Benguela?
Tereza de Benguela foi um líder quilombola de destaque que resistiu à escravidão durante duas décadas no século 18, lutando pela comunidade negra e indígena que vivia sob sua liderança. Acabou se mostrando uma líder nata: criou um parlamento local, organizou a produção de armas, a colheita e o plantio de alimentos e chefiou a fabricação de tecidos que eram vendidos nas vilas próximas. Ela liderou o Quilombo de Quaritetê, no vale do Guaporé, no estado de Mato Grosso, após a morte do seu marido José Piolho. Tereza instituiu normas para o funcionamento do quilombo e liderou a luta contra os portugueses.
Conforme documentos da época, o lugar abrigava mais de 100 pessoas, com aproximadamente 79 negros e 30 indígenas. Tereza foi morta após ser capturada por soldados em 1770.
No Brasil, a mulher negra encontra-se em uma das posições mais vulneráveis da nossa sociedade. A mulher negra é, ainda hoje, a principal vítima de feminicídio, das violências doméstica, obstétrica e da mortalidade materna, além de estar na base da pirâmide socioeconômica do país.
Este contexto das desigualdades vem sendo estudado pelo feminismo negro há algumas décadas, tendo referência no Brasil os estudos da pesquisadora Lélia Gonzales.
Neste dia 25 de julho, diversos coletivos e movimentos de mulheres negras lutam juntas por mais direitos, por educação, saúde, assistência social, moradia digna e trabalho decente; pelo fim de todas as formas de violência racista e machista e lgbtfóbica; pelo fim do genocídio da juventude negra e periférica; contra a intolerância religiosa, por respeito e preservação das religiões de matrizes africanas; pelo reconhecimento da titulação de terra das comunidades quilombolas, entre outras.
A história da América Latina foi embranquecida quando foi escrita, mas sobram exemplos de mulheres negras lutadoras que deixaram sua marca no tempo em que viveram. Eis alguns exemplos:
- María del Tránsito Sorroza (séc. XVII) - parteira, foi libertada em 1646 devido a sua competência profissional. Equador.
- Tereza de Banguela (?-1770) - rainha do Quilombo de Quariterê. Brasil.
- Cécile Fatiman (1791-?) - sacerdotisa vodu e ativista política. Haiti.
- María Remedios del Valle (1776-1847) - capitã do exército. Argentina.
- Victoria de Santa Cruz (1922-2014) - poeta, coreógrafa, desenhadora. Peru.
- Epsy Campbell (1963) - vice-presidente da Costa Rica, desde 1º de abril de 2018. Costa Rica.
- Gloria Rodríguez (1964) - 1.ª deputada negra no Uruguai.
- Ely Meléndez - economista, consultora do BID, ativista feminista. Honduras.
- Sandra Abd’Allah-Alvarez Ramírez (1973) - escritora e ensaísta. Cuba.
- Dilia Palacios (1977) - ativista política. Guatemala.
- Carolina Indriago (1980) - primeira miss Venezuela morena, apresentadora e modelo. Venezuela.
- Mercedes Argudin Pacheco - feminista. Chile.
- Betty Garcés (1986) - soprano. Colômbia.
Por Gislaine Vollet
Formada em Magistério. Graduada em Serviço Social e Pedagogia. Pós-graduada em Psicopedagogia, Ensino Lúdico e Gestão de Projetos Sociais. Tem ampla experiência nas áreas de formação.