Ex-educandos se apresentam na Semana da Psicologia Unicsul


A Usina dos Atos criou um Clube de Atividades com o objetivo de levar adiante e fortalecer a produção cultural por parte dos ex-educandos do Projeto 1ª CENA. Através dessa projeto, a Usina recebeu o convite para participar da Semana da Psicologia da Unicsul (Universidade Cruzeiro do Sul), levando aos participantes do evento a apresentação do espetáculo "Cemitério dos Vivos" e um debate importante sobre saúde mental. Renata Bastista, educadora de teatro dos educandos que participaram do evento, também estava presente e fez parte da mesa de debates que ocorreu na sequência da apresentação. "O tema era saúde mental e, basicamente, rolou uma discussão sobre o cenário da saúde mental atual, formas de tratamento, caminhos para atuação do profissional de psicologia, menção a alguns programas e projetos", explicou.

A peça foi produzida pelos educandos da 4ª turma do Projeto 1ª CENA na Zona Sul de São Paulo, no pólo do CEU Cidade Dutra. "Eu entrei na conversa pra falar um pouco sobre o processo da montagem. Eu fui sucinta, até porque durante o processo com os meninos, combinamos que a defesa desse encenação seria feito por eles mesmos, afinal, tudo foi criado por eles e eu fui uma das facilitadoras para que o espetáculo acontecesse", contou Renata.

A ex-educanda Thainara Oliveira, participante ativa da peça inclusive encenando, compartilhou com a gente a importância de trabalhar um tema tão importante. "Sinto que este trabalho tem muito a dizer. Me senti parte de algo extremamente importante, que ocupa o lugar de dar voz às pessoas que vivem esta realidade e não são ouvidas. Creio que a questão manicomial deve sim ser mais discutida e trabalhada, assim como a relação entre psiquiatra/psicólogo e o sujeito que o busca", explicou.

 

Criação e desenvolvimento  de um espetáculo

A peça "Cemitério dos vivos" foi criada, produzida e encenada pelos educandos da 4ª turma do Projeto 1ª CENA. Inicialmente feito como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), e agora tendo a oportunidade de levar o espetáculo para outro lugares, Thainara Oliveira, uma das educandas e atrizes do espetáculo, nos conta como surgiu a ideia de trabalhar a questão manicomial. "Quando começamos a criação, a ideia era juntar nossos questionamentos e angústias e fazer um recorte do tema "tempo". Pensamos em prisão e aí surgiram coisas como: prisão interna, prisão social, o tempo para cada pessoa. Ao final tínhamos o objetivo de questionar os padrões normativos da sociedade, o que pode ser considerado normal, o diferente, a loucura", conta.

Renata Batista, educadora da oficina de teatro da turma na época, também fez parte desse processo de construção do tema. "Fizemos uma série de pesquisas, entre filmes, músicas, notícias, conversas e muitos jogos para que eles entrassem no universo que estavam dispostos a colocar em cena". A educadora conta também que a escolha do tema a surpreendeu e que ficou surpresa com a turma."Eles mudaram muita coisa, desde as primeiras conversas sobre os caminhos a serem seguidos. Fiquei surpresa primeiro, por ser um tema bem complexo e pela faixa etária deles e segundo, por mexer com emoções profundas", explica.

Renata buscou ser sempre sincera na forma de apoiar o grupo durante o processo. "Gostei da escolha, mas também fui sincera com eles para que soubessem que o caminho que escolheram seguir seria doloroso, desgastante (psicologicamente falando), pois é difícil se expor em cena, ainda mais mostrando seu lado mais frágil". Thainara também contou sobre as participação dos outros educadores do Projeto nesse trabalho que envolve sempre todas as disciplinas. "Com a ajuda da nossa educadora de Política, Priscila, e a Camila, de Comunicação e Expressão, fomos nos aprofundando nas referências sobre manicômios e suas histórias, e juntamos tudo isso a crítica a esse tipo de instituição", lembra.

 

Oportunidades, atitudes e gratidão

A educanda Thainara também contou sobre a divisão de tarefas entre os participantes da turma. "Participo como atriz, produtora executiva, cuidando da parte burocrática por trás do espetáculo junto com a Thais, e roteirista. Eu e a Melissa, uma das atrizes, fomos as responsáveis por cuidar do roteiro: todos escreveram seus monólogos, mas nós cuidamos da edição e da escrita de algumas coisas que faltavam. Foi um trabalho duro escrever um roteiro como esse", relembra. O restante do grupo se dividiu na produção do cenário, figurino, e maquiagem.

Thainara falou também sobre Angel, sua personagem. "Angel vem para questionar o comportamento das pessoas em sociedade, as regras de comportamento que estão lá e não precisam ser ditas, todos apenas seguem. Questiona como lidamos com a tristeza, quando ela faz parte de uma doença ou não e como lidamos com isso", explica.

Para a educadora Renata, "o resultado do espetáculo ficou muito bonito, em todos os sentidos. Além de uma estética diferente (propus a eles uma abordagem visual não realista), eles conseguiram chegar ao estado emocional que se fazia necessário colocar em cena pra fisgar o público". E agradece a oportunidade de ver um trabalho tão profundo ser levado adiante. "Ficamos felizes com o convite para participar da Semana de Psicologia feita pelo Felipe, principalmente por mostrar para os educando que eles podem sim continuar desenvolvendo trabalhos que impactem e sejam de interesse das pessoas; pois apesar de haver ali no palco um certo exagero, percebemos que não estava tão distante da realidade vivida por alguns profissionais da saúde ou por algumas famílias", finaliza.

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